“O
desalento da pobre era sem limites. Debulhado em lágrimas, o magoado coração
não podia mais.
(…) Soluçava alto, carpindo as graças
esmaecidas, os pobres olhos baços, quando a comadre Brites mostrou o narigão
nas escadas e a forçou a desabafar suas tristes mágoas. (…) e a comadre
segredou que para mal dos amores ainda não havia como as rezas da bruxa, da
benzedura que ela bem sabia obrar coisas do arco da velha, ali á porta da
Judiaria. (…) Ao cair da noite, a mal-casada aventurou-se. (…) a pobre Inês e a
comadre Brites, chegaram por fim à judiaria, ou monte dos judeus, que ficava
para lá de S. João do Alporão, arrimadas as casas à muralha fronteira às ameias
do castelo, cerca do local onde hoje se levanta ainda uma esbelta guarita do
tempo dos moiros. (…) e a curandeira (…)
logo lhe disse que não tendo trato com satanás a coisa era mais custosa
(…) mas só podia obrar (…) se lhe trouxesse ali, inteirinha, nada menos que a
hóstia santa, a hóstia divina, logo depois de consagrada.
(…) Ao peregrino (…) mal voltava a ter
consciência do que o rodeava quando certa manhã, notou grande alvoroço lá no hospício.
Vociferações contra os judeus, - marranos! Perros excomungados! – saiam da boca
dos que, vindos de fora, ali entravam, clamando contra a raça odiada, invocando
as ordenações, pedindo o cutelo e a forca. Que chantassem na cadeia, o mulherio
desassisado e queimassem as bruxas malvadas, que só a fogueira teriam emenda!
- voto a Deus irmão! Exclamava o
palmeiro para um dos frades. Que outro maleficio fizeram esses carrascos de
Nosso Senhor?
(…) enquanto o borborinho se ia
adensando na portaria e os clamores eram cada vez mais desabridos, o irmão
disse-lhe muito simplesmente que era o caso da infeliz da rua das Esteiras… (…)
Meneando a cabeça encanecida, o romeiro ia meditando. E não se pôde conter que
não dispensa a um dos frades, à despedida.
- Deixou-me o Senhor voltar para que
na minha terra me desse esta lição
- Qual lição amigo?
- Que Deus está em toda a parte e por
nós derramará sempre o sangue do seu coração” ( Arruda, Virgilio, “Santarém no tempo”, Braga 1997, sociedade Gráfica SA)
Deus está em toda a parte e por nós
derramará sempre o sangue do seu coração.
"Nós encontramos Deus em toda a parte e em qualquer momento da nossa vida, não importa o local onde nos encontremos nem como nos sentimos. Ele está presente em nós
A atitude de Inês não foi correta, mas devemos saber perdoar e com ela aprendemos uma lição, Deus está sempre presente e pronto a derramar o seu sangue por nós.
Apesar de não ter sido a melhor atitude que a Inês tomou, assim como a da "Bruxa", não as devemos condenar, porque todos erramos e nem sempre seguimos pelo caminho correto ou de Deus. Devemos perdoar e pedir perdão pelas nossas falhas. Inês pelo seu desespero acabou por pecar, no entanto o perdão nestes casos é importante existir. Não devemos nunca nós humanos e humildes pecadores, condenar a sua atitude e não perdoar, como Jesus nos ensina. Ele chora e derrama o seu sangue por nós, então também nós devemos chorar, ajudar e amar os outros como ele nos ama"
Partilha do 6º volume
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