Nos últimos anos do séc. XIII,
reinando D. Dinis, havia uma gentil pastora que costumava ir apascentar o seu
gado para terras de Mont’Irás, perto do local onde já então se erguia a capela
dos Doze Apóstolos. Sucedeu que um cavaleiro de tronco nobre, D. Aires Mendes,
começou a perseguir a donzela e a incitá-la ao pecado, ao que ela, fortemente
se escusou com a jura de manter a virgindade intata até ao dia em que, perante
o altar, celebrasse a sua boda.
Mas tão insistentes se fizeram os
rogos do ardente moço que a tenacidade da moça começou a afrouxar, uma vez que,
no fundo do seu coração, já estava presa de afeto pelo galanteador. E um dia em
que a sua vontade se mostrava mais débil para manter a recusa, veio-lhe à mente
propor ao cavaleiro que este, em frente da imagem do Cristo dos Apóstolos,
fizesse a solene jura de que a desposaria em breve, ao que ele acedeu, jurando,
na pequena capela, que a tomaria como esposa. Feito o juramento, a pastorinha
entregou-se ao seu apaixonado, e juntos conheceram a força do mútuo afeto que
os ligava.
Em breve o sedutor, possuído do fruto da paixão, esquecia a
promessa jurada e o pecado em que incorrera com a que reputara de noiva. E
sucedeu que o fruto dessa união se começou a desenhar, ficando a pastora
comprometida aos olhos da família e das gentes do burgo, assim pejada e sem
poder divulgar a origem da sua desgraça; os seus rogos insistentes, para que o
cavaleiro tomasse a culpa da falta, eram por este negados, afirmando que nem
sequer conhecia a pastora que dizia trazer nas entranhas, um fruto do seu amor.
Como tudo se passara entre os dois, difícil se tornava à pobre acusada provar a
origem do delito e a sua inocência. Assim a pastora chegava ao termo da
gravidez, ferida na sua honra de mulher e com a reputação manchada.
Lembrou-se a pastorinha de solicitar dos juízes do burgo
que, em presença da imagem do Cristo dos Apóstolos, o sedutor tivesse o ânimo
de negar as relações que com ela mantivera. Reuniram-se na capela de S. Bento
os juízes, a acusada e o sedutor, perante muita gente da terra e aí uma cena
milagrosa se teria passado: quando a pastora, em choro confrangedor e fitando
com devoção a imagem, inquiriu em voz alta se era ou não verdade que, no mesmo
local, o cavaleiro lhe jurara amor eterno e a realização de um próximo
consórcio, eis que o Cristo de Mont’Irás levantou o braço direito da cruz em
que estava pregado, e em sinal de assentimento o deixou cair. Pasmam os
presentes com o sucesso miraculoso, bendizem todos a imagem que assim dava
testemunho da verdade, e ali mesmo o arrependido moço proclama as suas faltas
passadas e jura a sua união com a pobre pastorinha